O estudo também mostrou que essa época do ano é mais aguardada do que o Carnaval em municípios como Recife e Salvador. Mas não são apenas as cidades do Nordeste que se destacam: capitais do Sudeste, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, também celebram com entusiasmo as festas juninas, conhecidas pelas brincadeiras e, claro, pela gastronomia.

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As festas juninas, que surgiram antes mesmo da colonização do Brasil, estão ligadas ao plantio e colheita de alimentos, segundo a professora Eliane Morelli Abrahão, especialista em história da alimentação e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Apesar de ser uma cultura compartilhada em todo o Brasil, a gastronomia típica ganha um gosto único em cada região durante a época. As receitas aparecem de formas diferentes no Nordeste e no Sudeste, por exemplo, mas utilizam, muitas vezes, os mesmos ingredientes-base.

Ingredientes típicos das festas juninas

Milho, amendoim, batata doce e mandioca são algumas das matérias-primas que ganham os holofotes com a chegada das festas juninas. O traço em comum? São alimentos cultivados pelos povos indígenas do Brasil, da região Amazônica e do México, segundo a professora.

O o aos ingredientes e às práticas ancestrais de povos escravizados ou dos imigrantes europeus, por exemplo, influenciaram diretamente no preparo e nas receitas juninas de cada local. Um bom exemplo é o uso de leite de coco em regiões litorâneas do Nordeste. Como faltava criação de gado nos arredores, o ingrediente entrou como substituto ao leite comum em receitas juninas.

Entre os pratos que ilustram essa substituição está o arroz-doce. "No Nordeste, o arroz-doce leva o leite de coco e, no Sudeste, leva leite comum", diz a historiadora.

Arroz-doce é comum tanto no Sudeste quanto no Nordeste, mas leva ingredientes diferentes • Getty Images/ Julio Ricco
Arroz-doce é comum tanto no Sudeste quanto no Nordeste, mas leva ingredientes diferentes • Getty Images/ Julio Ricco

Cuscuz: diferenças entre Sudeste e Nordeste

A chef Helô Bacellar, do canal Na Cozinha da Helô, ressalta a importância de receitas como o cuscuz paulista para as festas juninas do Sudeste. "É a que mais mostra, na minha opinião, a diferença grande de doce e salgado do Sudeste para o Nordeste", afirma.

Segundo a chef, o cuscuz do Sudeste é salgado, muito temperado e pode ser comido quente, frio ou em temperatura ambiente. Também é um prato que vale por uma refeição.

Já o cuscuz nordestino costuma ser feito no café da manhã e leva "um pouco de manteiga ou muito leite de coco". "Em outros horários do dia, o cuscuz pode ir com peixe, frango ou legumes", completa Helô.

Além de carne-seca e pinhão, outro ingrediente de suma relevância para as festas juninas no Sudeste é o amendoim. Pode entrar em receitas diferentes, entre elas: amendoim torrado com sal, pé de moleque, paçoca, amendoim doce com casquinha de açúcar, ou em bolos de amendoim, que também são encontrados no Nordeste.

Mesmo com as diferenças em termos de danças, música e no preparo dos pratos, a professora ressalta que a celebração "tem o alimento como importante elemento de identidade" e de expressão gastronômica de Norte a Sul do Brasil.

Canjica ou mungunzá?

Apesar de muitos pratos juninos serem comuns tanto no Sudeste quanto no Nordeste, alguns nomes mudam dependendo do local. "A canjica de milho doce no Sudeste é denominada mungunzá no Nordeste", pontua a professora da Unicamp.

Mas por que pratos iguais recebem nomes diferentes? As palavras refletem a história de quem as usam, segundo Fabiane Altino, professora Associada do Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Canjica em São Paulo e mungunzá no Nordeste, mas uma delícia em todos os lugares • Eduardo Parra/Europa Press via Getty Images
Canjica em São Paulo e mungunzá no Nordeste, mas uma delícia em todos os lugares • Eduardo Parra/Europa Press via Getty Images

"Quando analisamos o vocabulário regional, por exemplo, estamos fazendo também uma retomada dos fatos que colaboraram para a formação daquele povo: migração, cultura, sua maneira de ver e representar o mundo e suas ligações", explica nesta matéria.

A palavra canjica, no entanto, é originada do quimbundo, uma língua falada em Angola. Dessa forma, o uso deste termo reflete a influência maior do continente africano nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil.

"Canjica, do quimbundo Kanjika e referente ao mesmo doce, tem maior produtividade nas Regiões Norte e Nordeste", completa.

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